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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Mas é como papai dizia

Eu ainda tenho vagas lembranças da minha infância. Lembro que meu pai não me deixava sair de casa pra brincar, que só foi me deixar ir pra casa de uma amiga passar a tarde quando eu tinha 8 ou 9 anos e que mesmo morando perto da escola, eles me levavam para o colégio pontualmente. Eu sempre fui muito mimada pela minha mãe na questão de boneca (pena que eu sempre preferi as lutinhas), de ir para as festinhas de aniversário, de ter sempre qualquer coisas cor-de-rosa no armário. Lembro que fiz birra em uma loja por que queria uma jaqueta rosa, mas minha mãe dizia ser de velha e que não serviria em mim. Não sei como, mas ela tinha vencido (provavelmente com alguma coisa). Lembro-me também que minha mãe vivia comprando maquiagens e bijuterias para mim, mas nunca usava ou me importava. Sonhava com uma menininha e acabou tendo uma mulequinha.

Uma vez eu pedi uma cadelinha e me deram um ursinho. Uma vez pedi um irmão e me deram duas irmãs. Uma vez então eu pedi para que meu pai me levasse ao shopping e ele me levou ao sitio. Eu ficava emburrada e colocava um bicão no rosto. Ele sempre foi muito protetor e passava o seu tempo livre ao meu lado. Eu sempre sonhei em deitar ao seu lado no sofá da sala pra lhe contar do meu dia, mas nunca tive essa coragem. Eu gostava de jogar cartas e também de como ele me ensinou a andar de bicicleta. Certa vez, cai. Ralei o joelho e chorei. Sangrou. Meu pai pegou no meu queixo após fazer o curativo e disse que eu cairia mais algumas centenas de milhares de vezes. Ele me disse que a vida é como andar de bicicleta. Sempre haverá uma pedra para atrapalhar, uma subida ou uma descida. Me ensinou que devemos desviar das pedras, não parar de pedalar nas subidas e redobrar a atenção nas descidas. Disse que mesmo com todos esses apelos, os tombos são inevitáveis e o que a gente deve fazer é levantar e começar tudo de novo. 

A vida é um ciclo de desafios que temos que superar a cada dia. A vida é uma ciclovia com alterações de relevo e que muitas vezes não nos permite usar nenhum tipo de segurança. Hoje eu sei que existem tais dores bem maiores do que ralar um joelho e que existem choros mais profundos, que são aqueles que acontecem sem ao menos fazerem cair uma lágrima sequer dos olhos. Meu pai me ensinou a ser forte desse jeito que para muitos parece errado. Ele me mimou porque ninguém mais o faria mais tarde. Ele me ensinou a saber lidar comigo mesma em todos os momentos. Ele me ensinou o que só agora parei para aprender

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